Às vezes, os sonhos falam
mais do que mil palavras. E, em noites silenciosas, quando tudo parece
repousar, algo em nós desperta e trabalha. Em muitas jornadas oníricas,
percebemos mensagens simbólicas — não apenas visões aleatórias, mas verdadeiros
processos de cura e transformação da alma. Hoje, compartilho uma reflexão que
nasce do silêncio das madrugadas: o que significa sonhar com uma casa
desorganizada, que insisto em limpar? E o que minha alma estaria tentando me
dizer com isso?
Às vezes, quando a mente
repousa e os olhos se fecham, é a alma quem desperta. Ela caminha por lugares
que o corpo não pode visitar e, em silêncio, começa a cuidar do que ficou
esquecido — como quem, noite após noite, tenta organizar um espaço sagrado: o
interior.
Há sonhos que se repetem.
Neles, estou sempre limpando uma casa — velha, desorganizada, com portas
emperradas e janelas cobertas de poeira. É a casa da minha infância (não que
fosse desorganizada) o lugar onde muitos de meus sentimentos começaram a tomar
forma. A cada sonho, mesmo sem compreender de imediato, percebo que minha alma
está trabalhando. Enquanto durmo, ela varre as dores não ditas, organiza
lembranças espalhadas, tenta restaurar com cuidado os cômodos mais frágeis do
meu ser.
Psicologicamente, essa
casa é mais que lembrança — é símbolo. Representa o inconsciente, os aspectos
de mim que foram reprimidos, esquecidos ou ainda não compreendidos. Arrumar
essa casa nos sonhos é um sinal claro de que há um movimento de cura em
andamento. De que partes minhas, mesmo silenciosas, estão tentando reencontrar
o equilíbrio.
A organização interior é
uma jornada. E o que está dentro, cedo ou tarde, se manifesta fora. Quando
guardamos raivas antigas, traumas não elaborados, ou sentimentos que não tiveram
espaço para serem acolhidos, tudo isso se projeta: nas relações, nos hábitos,
no corpo. Por isso, quando os sonhos mostram uma casa em desordem, talvez o que
está sendo revelado é o quanto ainda precisamos olhar para nós com mais
honestidade e cuidado.
Mas os sonhos mudam. E um
dia, sem aviso, a casa está quase limpa. As janelas abertas, o sol entrando. Um
cômodo já em ordem. Um sentimento de satisfação toma conta. Talvez porque parte
do trabalho interno já esteja feito. Talvez porque o coração começou a aceitar
aquilo que antes apenas resistia.
Em um desses sonhos, um
homem aparece. Gentil, presente, verdadeiro. Um reflexo, talvez, da harmonia
interna que começa a se manifestar. Ele não vem para consertar a casa, mas para
caminhar ao lado — como a vida faz, quando a gente aprende a acolher o que
somos.
Enquanto durmo, minha
alma continua o trabalho. E compreendo, cada vez mais, que crescer
espiritualmente é isso: escutar o que os sonhos dizem, respeitar o tempo da
arrumação e permitir que a limpeza interior transforme também o mundo ao redor.
A alma tem sua própria
linguagem — sutil, simbólica, intuitiva. Quando prestamos atenção, percebemos
que não estamos sós em nossas jornadas internas. Cada sonho é um convite para
escutar a sabedoria do inconsciente e permitir que, mesmo durante o sono, a luz
faça sua parte. Afinal, a casa que arrumamos nos sonhos é, na verdade, o templo
da nossa alma — e ela merece ser cuidada com carinho e verdade.
Beijos na Alma,
Simone Anjos
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